Sou o que sou por 3 motivos: Família, por mim mesmo e por causa da música. Sem dúvida nenhuma, a música foi um fator fundamental na minha construção pessoal ao longo de 31 anos. É difícil dizer se tenho bom gosto ou não, pois vivemos numa era de extrema diversidade e, entendo, que estamos diante do melhor momento da humanidade: podemos escolher. A música até pouco tempo atrás estava disponível para poucos setores da sociedade. Mas atualmente temos infinitas escolhas de acesso a uma riqueza de artistas e meios de ouvir seus respectivos trabalhos. Felizmente sou de uma geração que ainda pegou os discos de vinil e as fitas cassete. Os vinis estão de volta, mas estou falando de uma era de venda em grande escala dos famosos "bolachões" e das fitas K7. Não sei se foi bom ou ruim, no meu caso. Mas minha relação com a música foi através de descobertas, não por imposição. Meus pais nunca me obrigaram a ouvir tipos de artistas. Mas obviamente que sempre tiveram suas preferências e, querendo ou não, ouvi muitas músicas na companhia de ambos em casa ou, até mesmo, nos nostálgicos passeios de finais de semana. Posso dizer que minha formação musical foi bastante rica. Sempre tive mais facilidade em dizer o que eu não gosto do que aquilo que curto.
Foi em meados dos anos 90, não lembro muito bem, que achei uma caixa de sapatos abarrotada de fitas cassete. Peguei meu gravador National, escolhi “no escuro” uma das fitas, enfiei no compartimento e dei play. A fita estava rebobinada. De repente ouvi uns “riffs”. Na época nem sabia o que era aquilo. Ouço uma música em inglês. A voz do vocalista era agradável. A música parecia sem fim. No final, um solo de guitarra contagiante e emocionante. A música acaba e começa outra na sequência do mesmo artista. Era um blues. A fita continuou a rodar e começaram uns acordes diferentes do que eu estava acostumado a ouvir. Naquele tempo, eu também não sabia o que eram acordes. Não lembro se o lado daquela fita que eu gostava era o lado A ou o lado B, mas era o lado que eu sempre ouvia. Coisas desse tipo aconteceram algumas vezes na minha infância. Segundo meu tio Silvio, eu dormia depois do almoço, na casa da minha vó Valéria, ao som de Black Sabbath, Led Zeppelin e Pink Floyd. Alguns flashes voltam à minha mente mostrando meu pai Lucio tentando "tirar" algumas músicas no violino do Saint-Preux... Black Sabbath, Led Zeppelin, Pink Floyd e Saint-Preux. Claro que eu não conhecia nada disso durante essas experiências. Não conhecia, mas já tinha ouvido. Aí que vem a magia dos links mentais e a impressionante capacidade do cérebro gravar todas essas informações que poderão ser acessadas futuramente. É isso que aconteceu comigo. Considero-me um vulcão adormecido. Revisitei memórias sonoras vividas muitos anos antes que foram fundamentais nas minhas preferências atuais. Durante muitos anos eu ouvi discos com meus pais. Isso eu gostava, aquilo eu não gostava. Eram pensamentos da minha jovem mente. E durante outros longos anos, o 3 em 1 ficou parado, hibernando. Bastou a compra de uma agulha para que logo mais eu reconhecesse "Stairway to Heaven". "Isso eu já ouvi", pensei. Me senti orgulhoso em pegar o LP, comprado pelo meu pai nos anos 70, e sentir que já tinha passado por aquela experiência de ouvir. Quando meu pai então colocou outro LP, do Beatles, com uma capa alusiva à clássica turnê americana, recordei que pedia: "Lucio, toca Beatles pra mim...". Eu chamava meu pai pelo nome e devia ter uns 4, 5 ou 6 anos, por aí, como tentou relembrar minha mãe, Mãe Tânia. Passei por uma fase da música gaúcha tradicionalista e até da música andina. Mas foi o rock que sempre tomou conta da minha essência e comecei a prestar atenção nesses sinais na medida que fui me interessando em conhecer esses artistas que eu havia ouvido. Além da sonoridade, outros aspectos foram me chamando atenção durante esse meu trabalho de pesquisa. Comecei a prestar atenção nas capas de discos e nos instrumentais, além da sonoridade total. Se meu pai o e tio Silvio me apresentaram os LPs e as fitas cassete, meu tio João apresentou os CDs. Certo dia fui conhecer sua coleção de discos. Entre eles, e recordo muito bem, selecionei 3 para ouvir: "Tattoo You", dos Stones, "Zooropa", do U2 e "A Momentary Lapse of Reason", do Pink Floyd. Atualmente posso dizer e sou até enfático: de longe não são os melhores discos desses "monstros". Mas um deles, em especial, me marcou. Como eu disse, estava na busca de novos detalhes em relação à música, além da sonoridade total. E o Pink Floyd foi um marco na minha formação musical. Foi a partir do Pink Floyd e, diria mais, devo ao Pink Floyd meu interesse até mesmo em aprender a tocar um instrumento. Foi um marco na minha musicalidade, pois o Pink Floyd, pra mim, uniu todas as minhas necessidades. Esse estudo e essa compreensão da música, através dos seus artistas, muito mais do que ouvir, foi essencial.
"Dark side of The Moon" e "Meddle", dois grandes discos do Floyd, sempre estiveram em casa, guardados, prontos para serem ouvidos. Pedi certa vez ao meu pai "The Wall" como presente de Natal. Ganhei o CD "The Dark Side". Não fiquei triste, pois esse foi o primeiro de vários que ganhei ou comprei do Pink, do Led, do Sabbath, do Purple, entre outros, que fazem parte da minha coleção que só cresce e é um dos meus orgulhos. Hoje me sinto evoluído, mas com uma fome insaciável por coisas novas. Hoje sou apaixonado, principalmente, pelo desconhecido, por bandas como Cressida, Sweet Smoke e Nirvana (o dos anos 60). Aprendi que na música se evolui aprendendo com o passado. Isso é história. Ah, antes que eu me esqueça, quem eram os artistas da fita K7, ouro que achei dentro de uma caixa de sapatos? Eles estão na minha coleção: Gary Moore e Roxy Music.
Que os Deuses do Rock fiquem com Vocês!
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