
Foi em meados dos anos 90, não lembro muito bem, que achei uma caixa de sapatos abarrotada de fitas cassete. Peguei meu gravador National, escolhi “no escuro” uma das fitas, enfiei no compartimento e dei play. A fita estava rebobinada. De repente ouvi uns “riffs”. Na época nem sabia o que era aquilo. Ouço uma música em inglês. A voz do vocalista era agradável. A música parecia sem fim. No final, um solo de guitarra contagiante e emocionante. A música acaba e começa outra na sequência do mesmo artista. Era um blues. A fita continuou a rodar e começaram uns acordes diferentes do que eu estava acostumado a ouvir. Naquele tempo, eu também não sabia o que eram acordes. Não lembro se o lado daquela fita que eu gostava era o lado A ou o lado B, mas era o lado que eu sempre ouvia. Coisas desse tipo aconteceram algumas vezes na minha infância. Segundo meu tio Silvio, eu dormia depois do almoço, na casa da minha vó Valéria, ao som de Black Sabbath, Led Zeppelin e Pink Floyd. Alguns flashes voltam à minha mente mostrando meu pai Lucio tentando "tirar" algumas músicas no violino do Saint-Preux... Black Sabbath, Led Zeppelin, Pink Floyd e Saint-Preux. Claro que eu não conhecia nada disso durante essas experiências. Não conhecia, mas já tinha ouvido. Aí que vem a magia dos links mentais e a impressionante capacidade do cérebro gravar todas essas informações que poderão ser acessadas futuramente. É isso que aconteceu comigo. Considero-me um vulcão adormecido. Revisitei memórias sonoras vividas muitos anos antes que foram fundamentais nas minhas preferências atuais. Durante muitos anos eu ouvi discos com meus pais. Isso eu gostava, aquilo eu não gostava. Eram pensamentos da minha jovem mente. E durante outros longos anos, o 3 em 1 ficou parado, hibernando. Bastou a compra de uma agulha para que logo mais eu reconhecesse "Stairway to Heaven". "Isso eu já ouvi", pensei. Me senti orgulhoso em pegar o LP, comprado pelo meu pai nos anos 70, e sentir que já tinha passado por aquela experiência de ouvir. Quando meu pai então colocou outro LP, do Beatles, com uma capa alusiva à clássica turnê americana, recordei que pedia: "Lucio, toca Beatles pra mim...". Eu chamava meu pai pelo nome e devia ter uns 4, 5 ou 6 anos, por aí, como tentou relembrar minha mãe, Mãe Tânia. Passei por uma fase da música gaúcha tradicionalista e até da música andina. Mas foi o rock que sempre tomou conta da minha essência e comecei a prestar atenção nesses sinais na medida que fui me interessando em conhecer esses artistas que eu havia ouvido. Além da sonoridade, outros aspectos foram me chamando atenção durante esse meu trabalho de pesquisa. Comecei a prestar atenção nas capas de discos e nos instrumentais, além da sonoridade total. Se meu pai o e tio Silvio me apresentaram os LPs e as fitas cassete, meu tio João apresentou os CDs. Certo dia fui conhecer sua coleção de discos. Entre eles, e recordo muito bem, selecionei 3 para ouvir: "Tattoo You", dos Stones, "Zooropa", do U2 e "A Momentary Lapse of Reason", do Pink Floyd. Atualmente posso dizer e sou até enfático: de longe não são os melhores discos desses "monstros". Mas um deles, em especial, me marcou. Como eu disse, estava na busca de novos detalhes em relação à música, além da sonoridade total. E o Pink Floyd foi um marco na minha formação musical. Foi a partir do Pink Floyd e, diria mais, devo ao Pink Floyd meu interesse até mesmo em aprender a tocar um instrumento. Foi um marco na minha musicalidade, pois o Pink Floyd, pra mim, uniu todas as minhas necessidades. Esse estudo e essa compreensão da música, através dos seus artistas, muito mais do que ouvir, foi essencial.

Que os Deuses do Rock fiquem com Vocês!
Nenhum comentário:
Postar um comentário