Tonton Macoute: Tonton Macoute (1971)

Eu sei, calma, já vou injetar mais um veneno em suas veias viciadas no mais obscuro e extraordinário som do underground setentista. E de lá trago uma das grandes bandas daquelas que lançaram apenas um grande disco e, depois, sumiram do mapa. Estou falando da britânica Tonton Macoute que, em 1971, deixou seu legado de mesmo nome para nós, meros mortais do rock. Porém já aviso que o disco "Tonton Macoute" vai além do rock progressivo. Esse discaço de extremo bom gosto apresenta uma vasta influência jazzística e é um álbum muito divertido e prazeroso de ser ouvido. Alusivamente ou não, o nome Tonton Macoute ficou conhecido porque era o batismo uma milícia paramilitar (Militia of National Security Volunteers) do ditador haitiano François 'Papa Doc' Duvalier. Estima-se que a milícia teria matado e feito desaparecer mais de 150 mil pessoas, na sua maioria civis e opositores aos regimes Duvalier. Certamente que a banda não estaria utilizando esse nome como uma forma de homenagem. 
O disco abre com "Just Like Stone", que inicia suavemente ao som de uma flauta harmoniosa ambientada por acordes de órgão e, em seguida, uma solada bem característica nas teclas do piano e que tem como desfecho os primeiros vocais. Em seguida "Don't Make Me Cry" que começa com staccatos de hammond que preparam para um virtuoso solo de sax entre ondulações de órgão. Essa segunda faixa certamente é um dos grandes destaques. "Flying South In Winter" tem um clima oriental islâmico. Ouvindo esse som me vem à cabeça um cenário desértico e, lá no fundo, a presença de um grande palácio de um Marajá corrupto. E eu seria um intrépido detetive a serviço da Rainha.  "Dreams" mexe muito com a mente e fala, como diz o nome, sobre sonhos. Com um arranjo que climatiza o momento de uma espécie de devaneio, o vocal ecoado e distante enfatiza muito bem essa proposta. A guitarra mais pesada soa como um momento de ação que sugere um episódio de grande atividade bruscamente interrompida. "You Make My Jelly Roll" é totalmente "jazzy". Mais uma vez aqui as influências do grupo são abordadas. Os acordes e variações flutuam como nunca pelas teclas do piano, embalados pelo ritmo intenso porém refinado da bateria, imersos no romantismo da lírica. Aqui grande destaque, mais uma vez, para o sax. Por fim, o álbum fecha com "Natural High" partes 1 e 2. Na part 1 a composição é aberta com um piano melancólico, mas que logo é interrompido pela proposta de uma música realmente poderosa. Mais uma vez é a mente que está sendo explorada, como propõe o título da faixa. É ouvir e se deixar levar. Após um virtuoso teclado renascentista da primeira parte, o cérebro pede uma pausa e a part 2 retorna pela zona de limbo com uma bela troca de acordes limpos de guitarra, ondulações de flauta e aquela voz lá no fundo, novamente, nos pertimindo outras fugas. "Natural High" nos faz despertar e encerra com força total no melhor do jazz-rock que a banda poderia nos mostrar. Com coincidentes  44 minutos e 44 segundos o disco termina de rodar, proporcionando no silêncio um espetacular momento de reflexão. Se ainda não estiver satisfeito, dê uma boa curtida na capa e no restante do material gráfico que, por si só, já é capaz de nos convidar para uma viagem realmente interessante. "Tonton Macoute" é, meus amigos, um disco altamente recomendado para seu cérebro e para sua alma.

Paul French - piano, orgão, vocals
Chris Gavin - baixo, guitarra
Dave Knowles - saxofones, flauta, clarineta, vocal
Nigel Reveler - bateria, percussão

1 - Just Like Stone (6:30)
2 - Don't Make Me Cry (8:48)
3 - Flying South In Winter (6:26)
4 - Dreams (3:57)
5 - You Make My Jelly Roll (7:58)
6 - Natural High (Part 1) (6:55)
7 - Natural High (Part 2) (3:53)


Que os Deuses do Rock fiquem com Vocês!

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