Hawkwind: Levitation (1980)

Decidi dar um tempo para os compact discs e falar de um vinil completamente maluco oriundo do início dos anos 80. Para quem não conhece, vale realmente conferir o som progressivo (space rock) da banda inglesa Hawkind, com o LP "Levitation", lançado em 1980. Apesar da saída de Robert Calvert, que foi o principal letrista e vocalista, a obra é realmente interessante e curtir seus quase 40 minutos de duração faz da audição uma verdadeira viagem. O disco teve como atrações as presenças de Ginger Baker, nada mais nada menos do que o grande baterista do Cream e do tecladista Tim Blake. Gravado no Roundhouse Studios, entre julho e agosto de 1980, o disco foi produzido com o uso do 3M Sistema Mastering Digital. Foi um dos primeiros discos de rock a serem gravados com essa tecnologia. A digitalização ainda era uma grande novidade. Logo em seguida teríamos o lançamento dos famosos laser-discs e, finalmente, dos CDs. Levitation chegou à 21ª posição das paradas inglesas, fato que foi comemorado pela banda que considerou o disco tão empolgante quanto o seu primeiro, "Hawkwind", de 1970.
O disco começa com a faixa título "Levitation". É uma composição que já vinha sendo apresentada ao vivo antes do lançamento do álbum. De cara a bateria de Ginger quebra tudo. É um som que lembra muito o estilo de outra banda clássica, o Yes. Levitation apresenta uma harmonia extremamente interessante, com bons contrapontos entre guitarra e violão elétrico com cordas de aço, enquanto a bateria prossegue com um clima hard, aliado ao baixo contínuo e trabalhado. Enquanto isso, os sons do sintetizador ingressam dando amplitude à música, que apresenta boa parte de sua estrutura instrumental, tipicamente progressivo. Com a digitalização e bons aparelhos de som na época, presumo que o disco deva ter levado muita gente a outros planetas. 
"Motorway City" é a segunda faixa. Abre com uma sequência de acordes de guitarra com efeito e o vocal muito "yeszístico" de Dave Brock. Aliás, falando em efeito de guitarra, o fato mais curioso sobre essa faixa foi o uso do EBow pelo guitarrista  Lloyd-Langto. O EBow é um dispositivo alimentado por bateria de mão para tocar a guitarra, inventada por Greg Heet em 1969. Ao invés vez de ter as cordas atingidas pelos dedos ou uma escolha, eles são movidos pelo campo eletromagnético criado pelo dispositivo, produzindo um som que lembra o timbre de um arco de violino sobre as cordas. Outro fato curioso é que "Motorway City" foi o single escolhido pela banda, porém, não aceito pela gravadora.
"Psychosis" é a terceira faixa do disco, totalmente instrumental. Abre com um efeito de uma nave ou jato, provavelmente o que está estampado na capa. Aqui se destacam as ideias que passavam pela mente de Harvey Bainbridge naquele tempo. Mais uma das típicas viagens do rock progressivo que ainda tentava sobreviver na entrada dos anos 80. Característica básica da composição, além da exploração de recursos do sintetizador, é o final falso fundido com a próxima faixa, "World Of Tiers", também instrumental. Temos um contraponto interessante entre guitarra e violão elétrico e muito trabalho de bateria e teclado, que encerram o lado A.
E vamos ao lado B, que abre com "Prelude". E como diz o nome, é realmente o prelúdio construído em sintetizador que serve de introdução para o single do álbum, conforme a gravadora, que é "Who's Gonna Win The War?". Até não foi má ideia de torná-la candidata a hit, pois tem um refrão marcante, um grude, além de ser a faixa com predominância vocal e de melhor compreensão. Possui harmonia de guitarra oitavada e um baixo contínuo "obscuro". É uma faixa curta, em fade out, portanto, perfeita para tocar nas rádios. Em seguida "Space Chase" abre com os famosos efeitos de botões de computador, estilo Star Trek. Inicia com uma pegada bem hard, quebrada em seguida pelas distorções dos sintetizadores, e é mais um trabalho instrumental. Na reta final do disco, "The 5th Second of Forever" inicia com uma peça de violão erudito. Aos poucos adentram efeitos ambientais de sintetizador que desembocam numa excelente faixa, porém curta, que poderia ter sido um pouco mais explorada. Depois de alguns instantes de quebradeira entre a bateria e a guitarra, a composição retorna ao violão erudito com com nova passagem direta, desta vez para a última faixa, "Dust of Time". A música segue no mesmo ritmo do restante do álbum, com uma guitarra base e uma primeira guitarra que trabalha praticamente solando o tempo todo, enquanto o baixo e os sintetizadores ambientam e preparam terreno para o vocal cheio de efeitos. É umas das faixas mais longas do disco e há tempo para uma grande exploração de recursos e harmonizações. Logo adiante, acordes de piano introduzem o solo principal de uma guitarra lenta, com muitas característica setentistas. Toda a base durante o solo cumpre um papel eficiente até a retomada da assinatura da composição, através da parte vocal que encaminha o fechamento. Para os mais exigentes, talvez "Levitation" não seja um disco fundamental e eu diria que concordo com isso. Mas quem tiver a chance de conferir, terá pela frente uma jornada que só acrescentará conhecimento musical, pois o disco realmente foi muito bem produzido e tem seus atrativos. Vale conferir pelo seu momento histórico, numa época em que o rock progressivo estava ficando cada vez mais por baixo, após o surgimento de novas ramificações no rock e muito pela exigência de mercado das gravadoras. Os anos 80 seriam predominantemente marcados pelo desenvolvimento do heavy metal e da consagração do punk, que já estavam mostrando as caras no final dos anos 70. Disco recomendado. Ótima viagem!


Lado A

"Levitation" (Dave Brock) - 5:48
"Motorway City" (Brock) - 6:48
"Psychosis" (Harvey Bainbridge) - 2:22
"World of Tiers" (Bainbridge, Huw Lloyd-Langton ) - 3:30

Lado B

"Prelude" (Tim Blake) - 1:28
"Who's Gonna Win The War?" (Brock) -  4:45
"Space Chase" (Lloyd-Langton) - 3:11
"The 5th Second of Forever" (Brock, Lloyd-Langton) - 3:27
"Dust of Time" (Brock, Bainbridge, Lloyd-Langton) - 6:22

Dave Brock – vocais, guitarra, teclados
Huw Lloyd-Langton – guitarra, violão , backing vocals
Harvey Bainbridge – baixo, teclados, backing vocals
Tim Blake – teclados, backing vocals
Ginger Baker – bateria


Que os Deuses do Rock fiquem com Vocês!

2 comentários: