O Epifânicos e Anônimos dedica mais um post ao fabuloso rock argentino. Depois de uma viagem na busca de excelentes venenos, está na hora de relatar o que de melhor encontrei no país platino. E nada melhor do que começar essa série com o maior guitarrista da história da Argentina e, certamente, um dos grandes músicos da história mundial: Norberto "Pappo" Napolitano. Como conta o excelente site Rock.com.ar, Pappo nasceu em casa, perto do canto Artigas Camarão, no bairro de La Paternal, em Buenos Aires. Ele tocou na primeira formação dos Los Abuelos De la Nada e também com Los Gatos, bandas importantes não apenas no cenário argentino, mas latino americano. El Carpo, como era conhecido, tinha uma grande personalidade e era muito querido por seus mais chegados. Por outro lado, era um músico polêmico em alguns momentos, principalmente com a imprensa. Mas nunca foi rancoroso e é lembrado até hoje como uma pessoa especial, apesar de genioso.
Um dos grandes momentos da vida de Pappo foi o encontro com seu ídolo B.B. King, em Nova York, a convite do próprio lendário bluseiro, para um show inesquecível no famoso Madison Square Garden, em 1993. Conta a história que Pappo estava tão nervoso, que ficou trancado praticamente o tempo todo em seu quarto de hotel, se preservando, para garantir presença no palco com B.B. King. Pappo viajou pelo mundo mostrando seu talento e outras grande parcerias foram feitas com o passar dos anos. Ao longo da carreira, Pappo lançou excelentes discos solos com o Pappo´s Blues, e ainda foi integrante de duas outras super bandas, Aeroblus e Riff. No Aeroblus teve a parceria do baterista brasileiro Rolando Castello Junior (Made In Brazil) e do baixista Alejandro Medina (Manal). Castello Junior é a prova viva da falta de reconhecimento do rock no Brasil. Na Argentina foi, simplesmente, eleito o maior guitarrista do mundo. Em 1977 o Aeroblus lançou seu único disco, intitulado "Aeroblues" que é disputado a tapas por colecionadores. E é um disco fantástico de hard e blues, totalmente recomendado; simplesmente uma aula de rock sul-americano. Nos anos 80, com Boff Serafine, guitarra, Vitico, baixo, Juan García Haymmes, voz e Michel Peyronel, bateria e voz, nascia a Riff. Foi uma banda que marcou a geração daquele momento argentino que ainda estava nas garras do regime militar que tomava conta do país. Rock da melhor qualidade e atitude foram as marcas registradas. Pappo havia se destacado como um guitarrista de blues ao longo dos últimos anos, mas com o Aeroblus e, principalmente no Riff, a pegada partiu para as ramificações do hard e do heavy metal. Riff foi uma banda pesada que lançou ótima discografia. O grupo teve algumas paralisações, mas, como dizia Michel Vitico, o "Riff vai e vem quando quer". Pappo morreu em um acidente de moto perto de Lujan, na noite de uma quinta-feira, 24 Fevereiro de 2005. De acordo com fontes policiais, ele estaria alcoolizado, viajando em sua Harley Davidson, seguido por outra moto com seus filhos, depois de ter jantado em um restaurante. Após sua morte, muitas homenagens foram feitas através de shows e também pela literatura. A controvérsia do artista pode ser conferida nas obras "100 vezes Pappo", de Paul Schanton e "Suburban Man", de Sergio Marchi. O disco que destaco no Epifânicos e Anônimos é intitulado "Pappo With Deacon Jones - July 93 Los Angeles". Nesse momento Pappo já estava consagrado e seguia tocando, eventualmente, com algumas interessantes parcerias.
É um disco que apresenta uma performance ao vivo de Pappo ao lado do grande bluseiro americano Deacon Jones, um dos fundadores do Baby Huey & the Babysitters. Deacon Jones tocou ao lado de muita gente importante como Greg Allman, Elvin Bishop, Lester Chambers, Albert Collins, Freddie King e Buddy Miles. É um disco muito bem gravado, com a verdadeira face de Pappo. Exceto "El Tropezon" (The Stumble - Freddy Kin, Sony Thompson) e "Pequeña Ala" (Little Wing - Jimmy Hendrix), seis das oito faixas são da autoria de Pappo, como o clássico "Blues de Santa Fe". Pappo se notabilizou não apenas pelos discos de estúdio, mas também pelas suas apresentações ao vivo. O disco abre com "Fiesta Cervezal", que integra o disco "Volume 4". É uma música ótima da carreira solo de Pappo e muito divertida, que fala sobre um enorme desejo de celebrar o calor bebendo cerveja gelada. A faixa explora ótimos solos de guitarra, órgão, com especial destaque para a gaita de boca. Em seguida temos "El Tropezon". É o primeiro dos covers de Pappo de um de seus ídolos, Freedy King. Pappo mostra ao mesmo tempo fidelidade e virtuosismo criativo para reinventar a faixa que ficou ótima em espanhol. O segundo e último cover é "Pequeña Ala", do gênio Hendrix. É uma composição que apresenta uma harmonia com arpejos belíssimos e que exige uma técnica apurada instrumental para que a música dê certo. A guitarra de Pappo chora e, certamente, deixaria Hendrix satisfeito se estivesse vivo na época para ver de perto. Depois de reviver seus "professores", Pappo mostra o que tem de melhor. "Siempre Es Lo Mismo Nena" é a quarta faixa, do disco "Volume 3", de 72. Tem um andamento bem típico de Muddy Waters. A letra talvez seja uma crítica à visão de algumas pessoas a respeito dos músicos: "Siempre es lo mismo nena, tu madre y tu padre, están convencidos de que un vago soy". Ótimo instrumental. A guitarra é extremamente feroz durante a execução. "Sube a mi voiture" é outro clássico de Pappo. Tocou muitas vezes com a própria Riff. Destaque para a virtuose de Deacon Jones no Hammond. "Blues de Santa Fe", do "Volume 2", é uma das melhores do disco e da carreira de Pappo. Assim como na faixa anterior, Deacon Jones "destrói" no Hammond com uma espetacular sequência de solo, enquanto a base segura as pontas com um trabalho muito bem feito. "Desconfio" é a penúltima faixa e mais uma das clássicas dos anos 70 com Pappo´s Blues. Certamente uma grande música digna de estar no hall das grandes do blues mundial. Pappo mostra puro feeling durante a execução. É uma música com uma temática nostálgica. A harmonia apresenta um clima de melancolia. E para fechar o disco, mais uma música do "Volume 2", "Tren De Las 16". Ao fundo é possível perceber a cantoria e a satisfação do público com a presença marcante de Pappo. O shuffle marcante encerra os trabalhos com chave de ouro. Deacon Jones comanda o espetáculo durante boa parte da introdução e bota à prova a base mais uma vez. O solo de Pappo é de fazer qualquer ouvinte vibrar. Hammond, gaita e guitarra promovem um espetáculo à altura de John Mayall. "Pappo With Deacon Jones - July 93 Los Angeles" é apenas um pedacinho da grande carreira de Pappo. Para conhecer melhor o blues feito na América Latina, é fundamental ouvir Pappo. Digo mais, para se aprofundar no blues latino, seria interessante começar por Pappo. A Argentina, de forma notável, prova que não tem apenas no tango seu principal atrativo musical. Já comprovou que de rock e blues os hermanos entendem muito.
1 - Fiesta cervezal
2 - El Tropezón
3 - Pequeña ala
4 - Siempre es lo mismo, nena
5 - Sube a mi voiture
6 - Blues de Santa Fe
7 - Desconfío
8 - El tren de las 16
Um dos grandes momentos da vida de Pappo foi o encontro com seu ídolo B.B. King, em Nova York, a convite do próprio lendário bluseiro, para um show inesquecível no famoso Madison Square Garden, em 1993. Conta a história que Pappo estava tão nervoso, que ficou trancado praticamente o tempo todo em seu quarto de hotel, se preservando, para garantir presença no palco com B.B. King. Pappo viajou pelo mundo mostrando seu talento e outras grande parcerias foram feitas com o passar dos anos. Ao longo da carreira, Pappo lançou excelentes discos solos com o Pappo´s Blues, e ainda foi integrante de duas outras super bandas, Aeroblus e Riff. No Aeroblus teve a parceria do baterista brasileiro Rolando Castello Junior (Made In Brazil) e do baixista Alejandro Medina (Manal). Castello Junior é a prova viva da falta de reconhecimento do rock no Brasil. Na Argentina foi, simplesmente, eleito o maior guitarrista do mundo. Em 1977 o Aeroblus lançou seu único disco, intitulado "Aeroblues" que é disputado a tapas por colecionadores. E é um disco fantástico de hard e blues, totalmente recomendado; simplesmente uma aula de rock sul-americano. Nos anos 80, com Boff Serafine, guitarra, Vitico, baixo, Juan García Haymmes, voz e Michel Peyronel, bateria e voz, nascia a Riff. Foi uma banda que marcou a geração daquele momento argentino que ainda estava nas garras do regime militar que tomava conta do país. Rock da melhor qualidade e atitude foram as marcas registradas. Pappo havia se destacado como um guitarrista de blues ao longo dos últimos anos, mas com o Aeroblus e, principalmente no Riff, a pegada partiu para as ramificações do hard e do heavy metal. Riff foi uma banda pesada que lançou ótima discografia. O grupo teve algumas paralisações, mas, como dizia Michel Vitico, o "Riff vai e vem quando quer". Pappo morreu em um acidente de moto perto de Lujan, na noite de uma quinta-feira, 24 Fevereiro de 2005. De acordo com fontes policiais, ele estaria alcoolizado, viajando em sua Harley Davidson, seguido por outra moto com seus filhos, depois de ter jantado em um restaurante. Após sua morte, muitas homenagens foram feitas através de shows e também pela literatura. A controvérsia do artista pode ser conferida nas obras "100 vezes Pappo", de Paul Schanton e "Suburban Man", de Sergio Marchi. O disco que destaco no Epifânicos e Anônimos é intitulado "Pappo With Deacon Jones - July 93 Los Angeles". Nesse momento Pappo já estava consagrado e seguia tocando, eventualmente, com algumas interessantes parcerias.
É um disco que apresenta uma performance ao vivo de Pappo ao lado do grande bluseiro americano Deacon Jones, um dos fundadores do Baby Huey & the Babysitters. Deacon Jones tocou ao lado de muita gente importante como Greg Allman, Elvin Bishop, Lester Chambers, Albert Collins, Freddie King e Buddy Miles. É um disco muito bem gravado, com a verdadeira face de Pappo. Exceto "El Tropezon" (The Stumble - Freddy Kin, Sony Thompson) e "Pequeña Ala" (Little Wing - Jimmy Hendrix), seis das oito faixas são da autoria de Pappo, como o clássico "Blues de Santa Fe". Pappo se notabilizou não apenas pelos discos de estúdio, mas também pelas suas apresentações ao vivo. O disco abre com "Fiesta Cervezal", que integra o disco "Volume 4". É uma música ótima da carreira solo de Pappo e muito divertida, que fala sobre um enorme desejo de celebrar o calor bebendo cerveja gelada. A faixa explora ótimos solos de guitarra, órgão, com especial destaque para a gaita de boca. Em seguida temos "El Tropezon". É o primeiro dos covers de Pappo de um de seus ídolos, Freedy King. Pappo mostra ao mesmo tempo fidelidade e virtuosismo criativo para reinventar a faixa que ficou ótima em espanhol. O segundo e último cover é "Pequeña Ala", do gênio Hendrix. É uma composição que apresenta uma harmonia com arpejos belíssimos e que exige uma técnica apurada instrumental para que a música dê certo. A guitarra de Pappo chora e, certamente, deixaria Hendrix satisfeito se estivesse vivo na época para ver de perto. Depois de reviver seus "professores", Pappo mostra o que tem de melhor. "Siempre Es Lo Mismo Nena" é a quarta faixa, do disco "Volume 3", de 72. Tem um andamento bem típico de Muddy Waters. A letra talvez seja uma crítica à visão de algumas pessoas a respeito dos músicos: "Siempre es lo mismo nena, tu madre y tu padre, están convencidos de que un vago soy". Ótimo instrumental. A guitarra é extremamente feroz durante a execução. "Sube a mi voiture" é outro clássico de Pappo. Tocou muitas vezes com a própria Riff. Destaque para a virtuose de Deacon Jones no Hammond. "Blues de Santa Fe", do "Volume 2", é uma das melhores do disco e da carreira de Pappo. Assim como na faixa anterior, Deacon Jones "destrói" no Hammond com uma espetacular sequência de solo, enquanto a base segura as pontas com um trabalho muito bem feito. "Desconfio" é a penúltima faixa e mais uma das clássicas dos anos 70 com Pappo´s Blues. Certamente uma grande música digna de estar no hall das grandes do blues mundial. Pappo mostra puro feeling durante a execução. É uma música com uma temática nostálgica. A harmonia apresenta um clima de melancolia. E para fechar o disco, mais uma música do "Volume 2", "Tren De Las 16". Ao fundo é possível perceber a cantoria e a satisfação do público com a presença marcante de Pappo. O shuffle marcante encerra os trabalhos com chave de ouro. Deacon Jones comanda o espetáculo durante boa parte da introdução e bota à prova a base mais uma vez. O solo de Pappo é de fazer qualquer ouvinte vibrar. Hammond, gaita e guitarra promovem um espetáculo à altura de John Mayall. "Pappo With Deacon Jones - July 93 Los Angeles" é apenas um pedacinho da grande carreira de Pappo. Para conhecer melhor o blues feito na América Latina, é fundamental ouvir Pappo. Digo mais, para se aprofundar no blues latino, seria interessante começar por Pappo. A Argentina, de forma notável, prova que não tem apenas no tango seu principal atrativo musical. Já comprovou que de rock e blues os hermanos entendem muito.
1 - Fiesta cervezal
2 - El Tropezón
3 - Pequeña ala
4 - Siempre es lo mismo, nena
5 - Sube a mi voiture
6 - Blues de Santa Fe
7 - Desconfío
8 - El tren de las 16
Que os Deuses do Rock fiquem com Vocês!